sexta-feira, 18 de março de 2011

Vídeo de bullying e o papel do professor



O vídeo acima, que mostra o estudante Casey Heines sendo vítima de bullying em uma escola da Austrália, virou hit na internet. Casey é agredido por um colega de menor estatura e inicialmente não reage, porém, após as contínuas investidas, ele acaba jogando o outro garoto no chão de uma forma que acabou sendo associada ao personagem Zangief, do jogo de videogame Street Fighter.

O episódio serviu para destacar ainda mais o problema do bullying na mídia. Aproveitando a discussão, publicamos abaixo o artigo da professora e pedagoga Sueli Dib, que traz um relato emocionante sobre a experiência vivida na própria pele durante a idade escolar e também aborda o papel do professor no sentido de identificar as vítimas e os agressores para poder combater o bullying.

"Bullying – eu sobrevivi"

- Apelidos cruéis? Agressões verbais? Ataques físicos e/ou psicológicos que impliquem em tocar na sensibilidade do outro? É... eu acho que este último define melhor, mas com uma mescla dos outros questionamentos.

O que me parece que em todas as sociedades, a crueldade adolescente é marca registrada e estimulada. Tal estímulo parte da roda de amigos, da família, e hoje em dia dos meios de comunicação; tais como: programas televisivos de humor (sarcástico), internet, etc.

Na idade de 5 a 9 anos eu era chamada de “rolha de poço”, engraçado? Gordinha, baixinha e de cabelo pixaim. Sentia-me a mais feia, das feias, e se houvesse um reino das feias acho que eu seria a rainha, e claro, eu não habitava a roda das meninas “bonitas” porque rolha de poço de cabelo pixaim não tinha vez. Só conseguia me destacar por ser “estudiosa” como a professora gostava de falar... era meu “prêmio” de consolação.

Comecei a crescer, e emagrecer, emagrecer, daí me tornei “Olívia Palito” (aquela personagem do Popeye), mas eu emagrecia e meu nariz crescia, e era só o que aparecia no meu rosto – um narigão.

O que você acha que aconteceu? Ganhei outros apelidos e estes sim, na minha fase adolescente marcaram muito mais: nariz de bruxa...esse doía na minha alma e dava uma tristeza enorme, porque eu não era uma bruxa, mas acabava por me sentir como tal, de tanto que chamavam, ou senão, outro mais comum era: “o nariz chegou primeiro”. Meu isolamento já era uma característica, porque só os mais “parecidos” com você chegam perto, algo como se fosse uma doença contagiosa.

Nas aulas de educação física, penso que nunca participei, porque era posto aos próprios alunos que escolhessem os seus times, assim a garotada formava as equipes e eu nunca entrava em nenhuma, o professor determinava então que os que “sobravam” ficassem na reserva. Com o tempo, para evitar o constrangimento de ser preterida na escolha, chegava à aula de educação física com um atestado qualquer, assim podia ir embora.

Conformei-me com a situação, e por muito, muito tempo a baixa autoestima foi minha companheira. Fiquei na reserva toda a minha vida escolar e nenhum professor atentou para isso. Bullying é tudo isso, os apelidos pejorativos e humilhantes que “pegam” rápido porque são rejeitados, e quanto mais rejeitados os outros insistem em chamar por aquele nome.

É no ambiente escolar onde mais se dissemina a prática dos “apelidos”. As coisas mudam sim para melhor, porque diferentemente da minha época adolescente nos idos 70, hoje os professores têm consciência de seu papel e são bombardeados pela tecnologia que facilita a aquisição do conhecimento.

O profissional da educação – o educador/professor não é só mestre, sua postura deve ser perceptiva com relação àqueles alunos “excluídos” por estarem acima do peso, ou qualquer outra característica física que em nada atrapalha o desenvolvimento cognitivo. Assim, o papel do professor também passa por identificar os atores do bullying – seus agressores e suas vítimas.

Todos os professores deveriam ter no planejamento anual um trabalho que envolva ações de melhoria no ambiente escolar, o que evitaria a “vitimização” ou “maltrato entre pares”, uma vez que o bullying se trata de um fenômeno de grupo em que a agressão acontece entre iguais – no caso, estudantes.

Um trabalho dirigido com foco na atenção cura, a rejeição fere, que todos estejamos mais atentos ao que se passa a nossa volta, na escola, em casa, no trabalho – não custa nada.

Sobre a autora:

Sueli Dib
Especialista em Tecnologias Interativas Aplicadas à Educação pela PUC-SP, Recursos Digitais e Cultura de uso na Educação pela USP e em Educação Básica pela Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA). Formada em Pedagogia com Licenciatura Plena e formação para Docência das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, Administração Escolar, Supervisão Escolar e Orientação Educacional.
www.pedagogos.pro.br
E-mail: suelidib@gmail.com

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