quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Brasil de luto

Não há dúvidas de que a morte da Dra. Zilda Arns no terremoto ocorrido no Haiti chocou e deixou o país em luto. O texto de Gilberto Dimenstein, "Zilda Arns: uma paixão à primeira vista" publicado ontem na Folha Online, sintetiza muito bem a jornada exemplar desta brasileira, que sem dúvidas, fará uma imensa falta:

*Texto publicado na Folha Online, no dia 13/10


Apaixonei-me pela pediatra Zilda Arns à primeira vista --ou melhor, à primeira entrevista.

Eu morava em Brasília e ela, que estava interessada em ajudar a divulgação do trabalho da Pastoral da Criança --ainda em fase inicial e quase exclusivamente bancada pelo Unicef--, gostaria de conversar com jornalistas.

Perguntei-lhe qual era o orçamento do projeto, localizado em algumas comunidades do interior, e quantas crianças eram atendidas --e assim saiu o "lead" do meu primeiro artigo sobre a pediatra. Cada criança atendida saía, pelos valores de hoje, cerca de R$ 0,50. O título da coluna era: uma vida por 50 centavos.

A grandeza desse programa contra a mortalidade infantil estava justamente nisso: muito barato e, ao mesmo tempo, muito eficiente. Usando voluntários, quase todas mães, ele ensinava as mulheres a cuidar dos filhos, com medidas básicas de alimentação e higiene. Mulheres aprendiam a aproveitar a comida usando o que se imaginava ser resto --a casca do ovo, por exemplo, rica em cálcio.

Rapidamente --e com muita intensidade-- despencavam as estatística de mortalidade. Os resultados eram tamanhos que as ações se transformaram em política pública, bancadas pelos governos federal, estadual e municipal.

Está no trabalho da Pastoral, iniciado na década de 1980, a base para a criação dos agentes de saúde. Disseminavam não pelo país, mas pela América Latina e África. Por isso, tive a sorte de encontrá-la várias vezes em aeroportos.

Era unânime entre os pensadores de questões sociais no Brasil que Zilda Arns tinha desenvolvido uma potente tecnologia social, fazendo tanto com tão pouco.

Por ter salvado em tão pouco tempo tantas vidas, sempre achei que Zilda era nossa melhor candidata ao prêmio Nobel da Paz.

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